quarta-feira, 30 de outubro de 2013

LAUDA XX

DO EVOLUCIONISMO CULTURAL ÀS RAÍZES DA ANTROPOLOGIA SOCIAL.



É tempo de novas teorias e no século 19 engendra-se todo um outro arranjo intelectual através do racionalismo iluminista e a necessidade de se obter lógicas respostas acerca da origem da humanidade e do seu processo de “civilização” e das “sobrevivências” da “Cultura”. Bem como estabelecer modelos teóricos para explicar o mundo social qual a “aritimética social” de Tylor e as estruturas de parentesco de Morgan, além de Frazer com o “método comparativo”. 

Estão dadas as coordenadas para a investigação sobre os diversos graus e raças inferiores que se hierarquizam através da cultura e se configuram enquanto civilização, esta rede de conexões de costumes e “crenças”, que  se reúnem sobre o conjunto de sobrevivências de necessidade e perpetua-se nos ritos sociais.

Formulada sob uma concepção racialista, a ideologia desta escola de pensamento se apoiava nas concepções biológicas poligenistas. A possibilidade de pensar a humanidade composta de várias raças permitiu a hierarquização na ordem de desenvolvimento, evolução das sociedades com o predomínio a distinção da partir de características físicas.

O ideal romântico, projeção decadentista de uma unidade psíquica humanista de que leis gerais de causas naturais regem os movimentos societais influenciou o pensamento evolucionista, tecendo  características elementais sobre arte, religião e ciência e os artefatos materiais e as estruturas de parentesco forma-se o paradigma de cultura no contexto do evolucionismo operando relações entre os estágios entre a selvageria e a civilização.

A sequência unilinear de tempo e linha de desenvolvimento e complexidade das instituições e das estruturas denota o mais simbólico da evolução  que é observada arqueologicamente a respeito de ideias como o primitivo e o selvagem. Darwinismo, positivismo, racialismo, evolucionismo social em suas dimensões políticas, econômicas, materiais, simbólicas e no que pese seus ritos e cerimônias suas manifestações religiosas e seus fenômenos “mágicos” que criam a crença como retoma Marcel Mauss. 

Perpassando um conjunto de elementos, se faz necessário o aprofundamento da crítica nos propósitos de dominação a que serviam estes postulados dessa escola teórica chamada Evolucionismo no campo da Antropologia, os clássicos princípios fundadores das ciências sociais.

De tal modo deparamo-nos com os alicerces do pensamento racional positivo que dominou a Europa no século 19 assim que declarada as novas orientações intelectuais pela nova classe dominante e fez da academia francesa um polo gerador de uma visão de mundo etnocêntrica e baseada em artifícios políticos para legitimar um processo de exploração e consumo do planeta, da cultura da humanidade.
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SOBRE FRAZER E MORGAN E AS TEORIAS DA CULTURA.

Evolucionismo cultural, esta linha da cultura intelectual que pensa a “origem da cultura” emerge no século 19 trazendo à tona os conceitos de evolução, mudança, progressão. Teoria que segundo Tylor “os argumentos se fundam em distintas raças no mundo inteiro em favor da teoria e na frequência dos costumes de nossa civilização como sobrevivências de outras antigas e ainda se encontram em pleno vigor entre os povos primitivos”.

Obra sobre uma explicação sobre a origem da civilização e seus processos de desenvolvimento. Antropólogos antes de Darwin como Spencer. Recuperando também elementos de parentesco e estrutura qual Frazer postulava três etapas de evolução: magia, religião e ciência, prediletando a ciência como mais desenvolvida.Teóricos se importam com a concepção de crescimento no desenvolvimento, em que a cultura primitiva de Tylor observa-se a religião sobre a óptica dando um cunho de costume de costume e cultura sobre a lente da “aritmética social” e seu valor de determinação de leis gerais para o processo de desenvolvimento da cultura.

Enquanto Morgan apresenta a tese no seu livro Sociedade Primitiva de que as sociedades viveram em estado de selvageria barbárie e civilização e em progresso natural. O autor descreve os iroqueses e começou os estudos comparativos de estágios culturais em antigo, intermediário, recente que são determinados por fatores econômicos, políticos, sociais e religiosos.

A)  SELVAGERIA (antigo). SUPERIOR/ALTO: {Desde a invenção do arco-e-flecha}
                                                        MÉDIO: {Desde a dieta do peixe ao uso do fogo}
                          INFERIOR/BAIXO: {Desde a infância da humanidade. Pré Hominideos.}
B)    GREGOS (homérico). SUPERIOR/ALTO: {Desde a fundação do ferro como uso de ferramenta.              
                                         MÉDIO: {Domesticação dos animais e culturas do milho e plantas por meio da irrigação; uso de tijolos, dobe e pedras.}
                                 INFERIOR/BAIXO: {Desde a invenção da cerâmica ex: iroqueses.}
C)    CIVILIZAÇÃO (recente). {Desde a invenção do alfabeto fonético, com o uso da escrita até nossos dias.}

Já Frazer (1854-1941) abordando a evolução cultural e social e sua relação direta com a arqueologia permite comentar o Ramo de Ouro no qual emerge sua projeção do método comparativo trabalhando com lendas nórdicas. Estabelecendo uma relação entre costumes e ideias selvagens com as doutrinas fundamentais da cristandade e lendas e mitos de todas as partes do mundo.

O autor de fato realizou uma obra descomunal face a dimensão da investigação das mitologias e costumes que retratam a profundidade etnográfica.Sob o signo de pesquisadores como Spencer e Darwin, Frazer e suas “relíquias” – categoria – de crenças e costumes dos selvagens “que sobrevivem como fósseis entre povos de cultura mais elevada” colocariam em movimento a evolução.

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BOAS E A CRÍTICA: A ÓPTICA HISTÓRICA.


No que tange a Franz Boas e a sua revolução metodológica na abordagem do evolucionismo cultural, configurando assim a superação do pensamento de evolução uniforme da cultura, propondo assim um novo método de pesquisa a partir do desenvolvimento  histórico da civilização em oposição ao positivismo cultural e sua busca por leis gerais que regem o descobrimento das formações sociais entre todas as raças e povos.

Dessa forma Boas trabalha o pensamento em direção ao particularismo histórico  como determinação do fundamento de sua teoria oriunda de um forte senso do debate entre os historicistas e evolucionistas. Boas se afasta da concepção de raça opondo a ela a ideia de distinção pela cultura e seu processo difusionista dos costumes e fenômenos. Empiricista de método – particularismo histórico – em diálogo com as sensações físicas e percepções psicológicas desembocando na relativização concebendo a desinência de costumes entre os povos  e a necessidade de cada sociedade que interpenetram-se.


Logo, Boas responde por uma série de avanços técnicos, teóricos e metodológicos que representam o virar-se do pensamento social do ocidente para uma racionalização compreensiva de sustentação numa história difusionista de hábitos e totens, funções e significados, realizando estudos empíricos de processos nas áreas culturais através da indução se distanciando da lógica dedutiva do método comparativo dos evolucionistas qual Frazer e Tylor. Levando o estudioso da antropologia pensar numa relação direta entre difusão cultural e dominação social.

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