segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

LAUDA XXIII

MILTON SANTOS, Z. BAUMAN E A GLOBALIZAÇÃO : BREVES NOTAÇÕES SOBRE O ESPAÇO SOCIAL, O TEMPO E A DOMINAÇÃO.


A relação entre a globalização e o território se define e pode ser entendida, pela atenção dedicada pelas Ciências Sociais à dimensão histórica da vida em sociedade, ou seja, indo além, sobre a própria questão do tempo. Nesse sentido, a dimensão de movimento de um universo temporal determinado, se relativiza, frente à percepção das distâncias e sua multi escalaridade.

Logo, o imbricamento entre a territorialidade e a desterritorialidade, num ponto de vista dialético, leva a uma condição híbrida de multiterritorialidade, num exercício multidimensional que leva a reterritorialização num plano variado. De forma que, a ordem global fundada no fim das fronteiras que arranjam um fim do Estado e assim desterritorializa os sujeitos e as relações sociais encontra na ordem legal um processo fundacional de legitimação internacional desterritorializante, ou seja, planetário.

Globalização, desenraizamento, desterritorialização são processos inerentes uns aos outros e não simplesmente sinônimos, mas que possuem seus contraditos como a espacialidade territorial, a estabilidade e a dimensão local ou regional, além é claro da noção de nacionalidade. Gerando assim uma associação de contradições que concorrem para caracterizar a dinâmica das novas experiências e relações sociais no universo do espaço e do tempo, partindo de pressupostos como a compressão ou desencaixe e de relações de poder, ou seja, de dominações aí envolvidas.



Analisando entre contradições e possibilidades se, e, em que medida, somos “globalizados”, Bauman aponta que há algo de fatalista na história, e na história, as revoluções são inevitáveis. Já que nós, englobados, postos em globos, glóbulos sociais em fluxo constante pelas veias e artérias das cidades cada vez mais nos distinguimos, entre glóbulos brancos, vermelhos, entre tantas formas sociais mais ou menos globulares, em corpúsculos culturais, continuamos nos reproduzindo aos milhões, pelos cantos do planeta-globo.

A globalização é uma epidemia comportamental e os seres sociais são a um só tempo vírus, veículos e vítimas desta, observada no descontrole do consumo, no excesso de controle da liberdade (essa condição panóptica), essa desagregação de classe. Sermos globalizados é aderirmos a esse futuro que ainda não chegou (?) e sermos dependentes desta ilusão, deste presente idealizado e realizado, nem que seja virtualmente.

Em Bauman, encontra-se a crítica da velocidade como a necessidade da releitura do movimento, da passagem, das instituições modernas, da emergência dominante do cotidiano sobre as práticas sociais e como matéria de observação objetiva da realidade social do ponto de vista sociológico. Ser globalizado é ser imerso na emergência dos fatos dos acontecimentos e ir com eles até onde quer que eles nos levem. É reconhecer a centralidade do capital e a depreciação do trabalho.

Os elementos constituintes do complexo fenômeno histórico e processo sociocultural, que denominamos globalização, têm sua gênese em acontecimentos que estão atrelados a novas velocidades, tecnologias e transformações na estrutura político-econômica da vida social, da civilização moderna ocidental, levando em conta seus impactos na atualidade.Em outras palavras, é  possível ler o todo social pelo fragmento, ler o devir pelo presente e, talvez, apontar pelo devir o indefinido e enxergar uma forma no amorfo das relações contemporâneas e suas peculiaridades e os que caminhos que este toma.



Assim, observamos criticamente os três poderes da globalização, sob o ponto de vista de um olhar miltoniano para uma Era sem santos (ou com novos santos). Onde a farsa ou fábula é um primeiro estágio de nossa não percepção, uma espécie primeira sensação impressionada pelas luzes, tecnologias, velocidades e capital. A perversidade, a exploração, a alienação é o que encontramos depois da observação empírica da consciência crítica do mundo do trabalho.

Só quando superadas essas duas etapas anteriores é que se pode pensar e chegar ao porém final que é a constatação da função reprodutiva operada pela ideologia dominante que permite e induz o processo de mundialização do capital à globalização das desigualdades. O seu alcance diferenciado e o uso de técnicas e procedimentos que são operados no interior da práxis global, revelam que a globalização como aplicada atualmente não é inexorável sendo possível vislumbrar uma outra globalização.

Esta outra, fundada na sociodiversidade de culturas, etnias e territórios, centros e periferias, reorganizaria a ordem social dos processos histórico pelo privilégio de interesses sociais e coletivos até então, vilipendiados pelo particular e o privado.