sábado, 15 de dezembro de 2012

LAUDA V



Emíle Durkheim (1858  1917) teórico francês, que estuda fontes de solidariedade, apontadas como mecânica primitiva, mostra de uma sociedade sem Estado e orgânica, caracterizada pela complexidade interdependência das economias e onde tem-se uma espécie de diferenciação obscurecida. Num desenvolvimento metodológico para sociologia, o francês opera seu pensamento cientifico através uma organização social orientada pelo trabalho, como expôs em Da divisão do trabalho social (1893). Dando ênfase no elemento não contratual do contrato, numa espécie de crítica a Spencer, articulando indivíduo e liberdade em função da obrigação social, dependente de um complexo jurídico, econômico, religioso e estético tem-se os "faits sociaux".
Em A Noção de Representação em Durkheim, ensaio de raro fôlego e profunda densidade e rigoroso grau analítico e perspicácia no que tange a aproximação das Ciências Sociais com a Filosofia em regime crítico, escrito por Fernando Pinheiro Filho, que utiliza de aspectos relevantes para discutir conceitos e categorias imprescindíveis para a compreensão do pensamento social do francês, nos apresentando um rico panorama interpretativo.

O exemplo, de As formas elementares da vida religiosa (1912), em que corpo e alma são vistos sob o ponto de mudança social, as "representações coletivas" derivando de certa "consciência coletiva" dariam contornos a uma espécie de "morfologia social" resultante num "simbolismo coletivo" que compreende "determinantes estruturais" "produto dessa determinação" coletiva. A religião vista enquanto um pensamento coextensivo, uma metainstituição numa relação entre crenças religiosas e cognitivas abarcando assim uma teoria geral das representações coletivas.

Em O Suicídio (1897) a vida coletiva é o sinônimo de suas próprias representações, a heurística opera a superação da epistemologia kantiana culminando numa sociologia do conhecimento. Uma evolução da concepção durkheimiana de representação, o neo criticismo: pós-kantismo. Na direção de uma fundamentação racional do conhecimento, mediando a natureza humana e as representações coletivas numa dualidade entre a sociologia das categorias e a teoria das representações.

O corpo, o indivíduo, aquele que se exprime diante do espírito, o pensamento social, a moral que toma a forma de outra coisa que não nós mesmos, resultado do encontro sensibilidade e razão, uma primeira dicotomia do pensamento de Kant, uma crítica ao apriorismo. Caminhando para a origem social dos problemas postos entre a sociologia e a filosofia entende-se com base na leitura, que "o espírito humano é um sistema de fenômenos tomado como coisa, objetivação que supera as idiossincrasias dos psiquismos individuais, ele revela através de sua origem na sociedade a sua verdadeira natureza." A imposição do sagrado, por exemplo, como operação psíquica de síntese das consequências individuais em que se dá sua gênese.

A sociedade que é a transcendência do eu e ao mesmo tempo fonte de humanidade do homem formando sua personalidade na e pela força coletiva, sendo os conteúdos da mente via de entrada para representações coletivas. A representação que enquanto processo de pensamento por percepção é ao passo conteúdo do processo emanando ou afetando a mente sendo capaz de fixar-se. Num misto de representações sensíveis (fluxos não cristalizados) e pensamento conceitual, representações coletivas, associação numa síntese de elementos dispersos no meio social, as representações coletivas remetem à natureza supraindividual do homem, exprime o ideal coletivo que tem origem na religião. São, portanto, impessoais e estáveis, comuns a todos na medida em que emanam da comunidade dos homens e assim, instrumentos de intelecção do mundo e comunicação entre razões individuais.

As representações coletivas, enquanto forma-conteúdo das relações sociais encontra no totemismo o instrumento de justaposição dos indivíduos e os supera na configuração sui generis, é imediatamente hipostasiado simbolicamente no totem do clã, como a força da associação dos homens.

Na religião tomada enquanto metainstituição, simbolização, síntese coletiva que objetiva-se no indivíduo. A totalidade põe em debate a sociologia das categorias e o neocriticismo, numa relação estabelecida entre as representações individuais e as representações coletivas, entendendo representação enquanto síntese preenhe de autonomia. A espiritualidade, característica dos fatos intelectuais, se torna representação social, quando o hiperespírito, a sociedade ("ser especial") totaliza, transpõe as representações coletivas já que o sentido dos conceitos está na realidade coletiva.

Aproximando-se de Kant, põe-se em debate o empirismo e o apriorismo, na busca de entendimento da gênese das representações coletivas na religião, com base em uma epistemologia sociológica dotada de universalidade, observação e experiência do fenômeno social, no qual o real é fundado na experiência do coletivo. Ainda que tempo e espaço precedem, a experiência, são leis do espírito. O real é aquilo que pode ser demonstrado, "é um tecido de relações entre o fenômeno e a coisas em si, sensibilidade e entendimento, representação em relação as categorias socialmente determinadas certame entre razão e experiência, uma superação sócio-filosófica da teoria do conhecimento”.