Emíle Durkheim (1858 — 1917)
teórico francês, que estuda fontes de solidariedade, apontadas como mecânica
primitiva, mostra de uma sociedade sem Estado e orgânica, caracterizada pela
complexidade interdependência das economias e onde tem-se uma espécie de
diferenciação obscurecida. Num desenvolvimento metodológico para sociologia, o francês
opera seu pensamento cientifico através uma organização social orientada pelo
trabalho, como expôs em Da divisão do trabalho social
(1893). Dando ênfase no elemento não contratual do contrato, numa
espécie de crítica a Spencer, articulando indivíduo e liberdade em função da
obrigação social, dependente de um complexo jurídico, econômico, religioso e
estético tem-se os "faits sociaux".
Em A Noção de Representação em Durkheim, ensaio de raro fôlego e profunda densidade e rigoroso grau analítico
e perspicácia no que tange a aproximação das Ciências Sociais com a Filosofia
em regime crítico, escrito por Fernando Pinheiro Filho, que utiliza de aspectos relevantes para discutir conceitos e categorias imprescindíveis para a
compreensão do pensamento social do francês, nos apresentando um rico panorama
interpretativo.
O exemplo, de As formas elementares
da vida religiosa (1912), em que corpo e alma são vistos sob o ponto de
mudança social, as "representações coletivas" derivando de certa
"consciência coletiva" dariam contornos a uma espécie de
"morfologia social" resultante num "simbolismo coletivo"
que compreende "determinantes estruturais" "produto dessa
determinação" coletiva. A religião vista enquanto um pensamento
coextensivo, uma metainstituição numa relação entre crenças religiosas e
cognitivas abarcando assim uma teoria geral das representações coletivas.
Em O Suicídio (1897) a vida
coletiva é o sinônimo de suas próprias representações, a heurística opera a
superação da epistemologia kantiana culminando numa sociologia do conhecimento.
Uma evolução da concepção durkheimiana de representação, o neo criticismo:
pós-kantismo. Na direção de uma fundamentação racional do conhecimento,
mediando a natureza humana e as representações coletivas numa dualidade entre a
sociologia das categorias e a teoria das representações.
O corpo, o indivíduo, aquele que se exprime
diante do espírito, o pensamento social, a moral que toma a forma de outra
coisa que não nós mesmos, resultado do encontro sensibilidade e razão, uma
primeira dicotomia do pensamento de Kant, uma crítica ao apriorismo. Caminhando
para a origem social dos problemas postos entre a sociologia e a filosofia
entende-se com base na leitura, que "o espírito humano é um sistema de
fenômenos tomado como coisa, objetivação que supera as idiossincrasias dos
psiquismos individuais, ele revela através de sua origem na sociedade a sua
verdadeira natureza." A imposição do sagrado, por exemplo, como operação psíquica
de síntese das consequências individuais em que se dá sua gênese.
A sociedade que é a transcendência do eu
e ao mesmo tempo fonte de humanidade do homem formando sua personalidade na e
pela força coletiva, sendo os conteúdos da mente via de entrada para
representações coletivas. A representação que enquanto processo de pensamento
por percepção é ao passo conteúdo do processo emanando ou afetando a mente
sendo capaz de fixar-se. Num misto de representações sensíveis (fluxos não
cristalizados) e pensamento conceitual, representações coletivas, associação numa
síntese de elementos dispersos no meio social, as representações coletivas
remetem à natureza supraindividual do homem, exprime o ideal coletivo que tem
origem na religião. São, portanto, impessoais e estáveis, comuns a todos na medida
em que emanam da comunidade dos homens e assim, instrumentos de intelecção do
mundo e comunicação entre razões individuais.
As representações coletivas, enquanto
forma-conteúdo das relações sociais encontra no totemismo o instrumento de
justaposição dos indivíduos e os supera na configuração sui generis, é imediatamente hipostasiado simbolicamente no totem
do clã, como a força da associação dos homens.
Na religião tomada enquanto metainstituição,
simbolização, síntese coletiva que objetiva-se no indivíduo. A totalidade põe
em debate a sociologia das categorias e o neocriticismo, numa relação
estabelecida entre as representações individuais e as representações coletivas,
entendendo representação enquanto síntese preenhe de autonomia. A
espiritualidade, característica dos fatos intelectuais, se torna representação
social, quando o hiperespírito, a sociedade ("ser especial")
totaliza, transpõe as representações coletivas já que o sentido dos conceitos
está na realidade coletiva.
Aproximando-se de Kant, põe-se em debate
o empirismo e o apriorismo, na busca de entendimento da gênese das
representações coletivas na religião, com base em uma epistemologia sociológica
dotada de universalidade, observação e experiência do fenômeno social, no qual
o real é fundado na experiência do coletivo. Ainda que tempo e espaço precedem,
a experiência, são leis do espírito. O real é aquilo que pode ser demonstrado,
"é um tecido de relações entre o fenômeno e a coisas em si, sensibilidade
e entendimento, representação em relação as categorias socialmente determinadas
certame entre razão e experiência, uma superação sócio-filosófica da teoria do
conhecimento”.