DO
EVOLUCIONISMO CULTURAL ÀS RAÍZES DA ANTROPOLOGIA SOCIAL.
É
tempo de novas teorias e no século 19 engendra-se todo um outro arranjo
intelectual através do racionalismo iluminista e a necessidade de se obter
lógicas respostas acerca da origem da humanidade e do seu processo de
“civilização” e das “sobrevivências” da “Cultura”. Bem como estabelecer modelos
teóricos para explicar o mundo social qual a “aritimética social” de Tylor e as estruturas de parentesco de
Morgan, além de Frazer com o “método comparativo”.
Estão
dadas as coordenadas para a investigação sobre os diversos graus e raças
inferiores que se hierarquizam através da cultura e se configuram enquanto
civilização, esta rede de conexões de costumes e “crenças”, que se reúnem sobre o conjunto de
sobrevivências de necessidade e perpetua-se nos ritos sociais.
Formulada sob uma concepção racialista, a ideologia desta escola de pensamento se apoiava
nas concepções biológicas poligenistas. A possibilidade de pensar a humanidade
composta de várias raças permitiu a hierarquização na ordem de desenvolvimento,
evolução das sociedades com o predomínio a distinção da partir de características
físicas.
O
ideal romântico, projeção decadentista de uma unidade psíquica humanista de que
leis gerais de causas naturais regem os movimentos societais influenciou o
pensamento evolucionista, tecendo características elementais sobre arte, religião e ciência e os
artefatos materiais e as estruturas de parentesco forma-se o paradigma de
cultura no contexto do evolucionismo operando relações entre os estágios entre
a selvageria e a civilização.
A sequência
unilinear de tempo e linha de desenvolvimento e complexidade das instituições e das estruturas denota o mais simbólico da evolução que é observada arqueologicamente a
respeito de ideias como o primitivo e o selvagem. Darwinismo,
positivismo, racialismo, evolucionismo social em suas dimensões políticas, econômicas,
materiais, simbólicas e no que pese seus ritos e cerimônias suas manifestações
religiosas e seus fenômenos “mágicos” que criam a crença como retoma Marcel
Mauss.
Perpassando um conjunto de elementos, se faz necessário o aprofundamento
da crítica nos propósitos de dominação a que serviam estes postulados dessa
escola teórica chamada Evolucionismo no campo da Antropologia, os clássicos
princípios fundadores das ciências sociais.
De
tal modo deparamo-nos com os alicerces do pensamento racional positivo que
dominou a Europa no século 19 assim que declarada as novas orientações
intelectuais pela nova classe dominante e fez da academia francesa um polo
gerador de uma visão de mundo etnocêntrica e baseada em artifícios políticos
para legitimar um processo de exploração e consumo do planeta, da cultura da
humanidade.
·
SOBRE FRAZER E MORGAN E AS TEORIAS DA CULTURA.
Evolucionismo
cultural, esta linha da cultura intelectual que pensa a “origem da cultura”
emerge no século 19 trazendo à tona os conceitos de evolução, mudança,
progressão. Teoria que segundo Tylor “os argumentos se fundam em distintas
raças no mundo inteiro em favor da teoria e na frequência dos costumes de nossa
civilização como sobrevivências de outras antigas e ainda se encontram em pleno
vigor entre os povos primitivos”.
Obra
sobre uma explicação sobre a origem da civilização e seus processos de
desenvolvimento. Antropólogos antes de Darwin como Spencer. Recuperando também
elementos de parentesco e estrutura qual Frazer postulava três etapas de
evolução: magia, religião e ciência, prediletando a ciência como mais desenvolvida.Teóricos
se importam com a concepção de crescimento no desenvolvimento, em que a cultura
primitiva de Tylor observa-se a religião sobre a óptica dando um cunho de
costume de costume e cultura sobre a lente da “aritmética social” e seu valor
de determinação de leis gerais para o processo de desenvolvimento da cultura.
Enquanto
Morgan apresenta a tese no seu livro Sociedade Primitiva de que as sociedades
viveram em estado de selvageria barbárie e civilização e em progresso natural.
O autor descreve os iroqueses e começou os estudos comparativos de estágios
culturais em antigo, intermediário, recente que são determinados por fatores
econômicos, políticos, sociais e religiosos.
A) SELVAGERIA
(antigo). SUPERIOR/ALTO: {Desde a invenção do arco-e-flecha}
MÉDIO:
{Desde a dieta do peixe ao uso do fogo}
INFERIOR/BAIXO: {Desde a infância da
humanidade. Pré Hominideos.}
B)
GREGOS
(homérico). SUPERIOR/ALTO: {Desde a fundação do ferro como uso de
ferramenta.
MÉDIO: {Domesticação dos animais e culturas
do milho e plantas por meio da irrigação; uso de tijolos, dobe e pedras.}
INFERIOR/BAIXO: {Desde a invenção da
cerâmica ex: iroqueses.}
C)
CIVILIZAÇÃO
(recente). {Desde a invenção do alfabeto fonético, com o uso da escrita até
nossos dias.}
Já
Frazer (1854-1941) abordando a evolução cultural e social e sua relação direta
com a arqueologia permite comentar o Ramo de Ouro no qual emerge sua projeção
do método comparativo trabalhando com lendas nórdicas. Estabelecendo uma
relação entre costumes e ideias selvagens com as doutrinas fundamentais da
cristandade e lendas e mitos de todas as partes do mundo.
O
autor de fato realizou uma obra descomunal face a dimensão da investigação das
mitologias e costumes que retratam a profundidade etnográfica.Sob o signo de
pesquisadores como Spencer e Darwin, Frazer e suas “relíquias” – categoria – de
crenças e costumes dos selvagens “que sobrevivem como fósseis entre povos de
cultura mais elevada” colocariam em movimento a evolução.
***
BOAS E A CRÍTICA: A ÓPTICA HISTÓRICA.
No
que tange a Franz Boas e a sua revolução metodológica na abordagem do
evolucionismo cultural, configurando assim a superação do pensamento de
evolução uniforme da cultura, propondo assim um novo método de pesquisa a
partir do desenvolvimento histórico da
civilização em oposição ao positivismo cultural e sua busca por leis gerais que
regem o descobrimento das formações sociais entre todas as raças e povos.
Dessa
forma Boas trabalha o pensamento em direção ao particularismo histórico como determinação do fundamento de sua teoria
oriunda de um forte senso do debate entre os historicistas e evolucionistas. Boas
se afasta da concepção de raça opondo a ela a ideia de distinção pela cultura e
seu processo difusionista dos costumes e fenômenos. Empiricista de método –
particularismo histórico – em diálogo com as sensações físicas e percepções psicológicas
desembocando na relativização concebendo a desinência de costumes entre os
povos e a necessidade de cada sociedade
que interpenetram-se.
Logo,
Boas responde por uma série de avanços técnicos, teóricos e metodológicos que
representam o virar-se do pensamento social do ocidente para uma racionalização compreensiva de sustentação numa
história difusionista de hábitos e totens, funções e significados, realizando
estudos empíricos de processos nas áreas culturais através da indução se
distanciando da lógica dedutiva do método comparativo dos evolucionistas qual
Frazer e Tylor. Levando o estudioso da antropologia pensar numa relação direta
entre difusão cultural e dominação social.