terça-feira, 29 de outubro de 2013

LAUDA XIX

O BRASIL DE DARCY RIBEIRO E ROBERTO DAMATTA : UMA INTERPRETAÇÃO SÓCIO-ANTROPOLÓGICA PARA UM ENTENDIMENTO DA NAÇÃO E DO BRASILEIRO DO PONTO DE VISTA RELACIONAL E TRIDIMENSIONAL.

“Desigualdades sociais profundas dividiam os baianos entre senhores e escravos, brancos e negros, ricos e pobres livres e libertos. O número destes, sobretudo mestiços e negros, vinha crescendo vigorosamente desde a segunda metade do século XVIII. Entretanto, como ocorreu em outras sociedades escravagistas, a economia baiana mostrou-se pouco flexível à incorporação da mão de obra livre ao mercado de trabalho. Por conta disso, o homem livre assumia a condição de verdadeiro deslocado. A escassez de empregos obrigava a maioria deste contingente livre a viver de ocupações passageiras e instáveis. Além do mais, havia da parte dos homens livres pobres uma atitude de permanente desconfiança e, em certos casos, até de recusa em vender sua força de trabalho. Para muitos homens livres era preferível viver na mendicância a se sujeitarem a relações de trabalho que os equiparasse à condição e escravos. Dentro dos referenciais de uma sociedade escravista, o fato de não possuírem escravos e viverem do próprio trabalho já era sinal de extrema pobreza.” (FRAGA FILHO, Walter. Mendigos, moleques e vadios. Salvador: EDUFBA, 1996)

Sobre a fundação do mundo brasileiro, fração luso-africana em terras ameríndias se pode afirmar que se deve a um conflituoso e bélico processo social, político e cultural, onde possa-se entender bélico, não apenas, no seu sentido original mas também, na perspectiva de enfrentamento biológico e ecológico, enfrentamento das forças produtivas europeias e o continente americano em exploração.

Essa “guerra” étnica, religiosa, ideológica daria origem a uma América lusófona, essencialmente hibrida racial e genesicamente indeterminada entre os poderes de uma classe dirigente atrelada à economia externa e um povo subalternizado em suas determinações históricas.

Assim, uma “comunidade imaginada” inventa a realidade formal para ordenar as relações sociais, vivificando seu desenho e contornos num plano de nação em suas contradições, bem como suas gradações de sentido sociológico e antropológico, com questões que lhe são caras, como o mito da “democracia racial” e a questão do Estado de direito orientado pela violência e exclusão social.

A compreensão deste país aos olhos dos autores que intitulam esse ensaio, vão ao encontro dos pontos críticos que puncionam as ambiguidades e atualizam os privilégios de cor, de classe e a saber, de um modo vivendi que corporifica através de  práticas e condutas como o servilismo, o preconceito, a patronagem, a reificação de uma consciência nacional socialmente assentada no “desfazimento” e caldeamento que dissolvem um pretensa auto-identificação de um “povo novo”.

I.

Se tomarmos como ponto de partida a “herança”, ou melhor, a marca indelével gravada na pele e no tecido social da vida brasileira, a sociedade nascida do fluxo e reflexo escravagista e na acumulação dos senhores de engenho e barões do café, reproduz sobremaneira a dialética capitalista de inspiração hegeliana – na clássica demonstração da lógica senhor/escravo – a não ser pelo incremento de um terceiro elemento na operação deste principio científico, que com base no materialismo histórico, que orienta Darcy Ribeiro – a presença do mestiço.

Que de alguma forma, enquanto “pobres livres e libertos”, não incorporados diretamente ao mercado de trabalho, que seria ocupado por imigrantes como aponta Darcy, se encontram na condição de marginal no processo econômico e social brasileiro.

Esse grupo indeterminado, posto entre o establichement e os subalternizados, produziu um corpus social distinto que, “rejeitando o trabalho que os equiparasse à condição de escravos” preferiam viver na mendicância, ou armações e atividades informais ou pequenas ocupações, ainda que em extrema pobreza.

Essa esfera que se forma, serve de contra peso nos jogos sociais que se operam dentro da lógica do Brasil formal, que precisando de uma massa refém do servilismo e dos possíveis benefícios do Estado nacional, dão início ao que de forma articulada e pensada, segundo Damatta vai ser a base da vida nacional que é a noção de relação que se estabelece em função de interesses e serviços que se podem prestar uns aos outros.

II.

Nesse campo se estabelecia objetivamente a cidadania do brasileiro que nesse sentido de num misto de transfiguração étnica na ideia darcyniana, aproximada da inclusão realizada pelo plano institucional no qual a “relação” insere o sujeito e os grupos gradativamente outorgando-lhes, direitos e, por conseguinte,privilégios legais.

III.

A unidade territorial geográfica, linguística da nossa economia política ainda assim não permite uma uniformidade no plano das relações raciais, éticas, de gênero e étnica marcada pela luta de classe pela desigualdade social características de um país colonizado e explorado.

IV.

A construção de uma “ética múltipla” e triangular que pautada na dialética entre o liberalismo econômico, o paternalismo, o mercado livre e o capitalismo hereditário  articulando o principio do escravismo com o individualismo que atinge um campo de influência reflexiva numa perspectiva relativista. O que no Recôncavo da Bahia, a natureza social reflete sobremaneira os pontos abarcados pela teoria de Damatta onde um sistema arquitetado entre parentescos e poder político, poderes econômicos e prestígios sustentam a exploração do povo negro e alimentam a dominação dos grupos dirigentes preservando o grupo mediano no balanceamento da estrutura social.

V.


O status de um povo novo, num gênero humano original, onde o “cunhadismo” foi uma das primeiras práticas de cordialidade que anteriormente o invasor estrangeiro é deslocado para a categoria de membro da tribo pelo casamento com uma das moças índias, dando origem a um não-índio, hibrido este que desde a origem é sensível a propósitos históricos e sociais alienados.    

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