sexta-feira, 21 de março de 2014

LAUDA XXXIV


Palimpsestos de um pensador e as contradições da razão.


Alguns livros, contam sobre fatos, histórias, contos ou fábulas, mitos ou teorias, métodos etc., outros  retomam e nos remonta a toda uma época. A distância entre o clima mental renascentista – envolto em ares de modernidade – e a atmosfera enevoada do baixo medievo sobre a relação entre a tradição helênica e a mentalidade racionalista se torna observável, a partir do momento em que se passa a dar mais importância às fontes de pesquisa, principalmente enquanto consulta para referência crítica das indicações bibliográficas e possibilidade de averiguação da credibilidade das referidas citações, apontadas com elementos de distinção entre períodos e visões das ciências humanas e sociais sobre a sociedade.
A teoria é como ter a visão de um pensamento ainda não escrito, o olhar por sobre uma realidade ainda não revelada. Constata-se a imagem do (e|ou) no espelho como metáfora da reflexividade e circularidade da representação da modernidade no contemporâneo. A projeção de uma visão de conjectura sistemática é a espécie história social sociologizada. A conjuntura social da modernidade revelou o intelectual renascentista, posto entre a socioestética humanista o código de honra e virtude herdado da teologia católica frente a paradigmas oriundos de um modelo posto num estilo determinado pela língua sejam as latinas (italiana, francesa, espanhola e portuguesa) ou as germânicas ou anglo-saxônicas. Essas tradições construídas enquanto traduções e citações de um conhecimento compreendido entre a razão e magia, entre a Alquimia de Paracelsus ou a Cabala de Alberti, apresenta uma síntese de um significado de visão de mundo e prova do temperamento da cultura moderna.
A escrita por meio da reprodução dos copistas foi, aos poucos, substituída pela vocação à escrita pela escrita. A razão viria para espantar os “fantasmas da febre” no delírio assombroso que a metafísica da Igreja legou aos fiéis, sendo posto a prova com argumentos de uma consciência científica e filosoficamente materialista. A saber, pela visão de Santo Agostinho e São Tomás de Aquino, retomando em princípio Aristóteles. O ócio, o desejo de aprender, a vida livre, a ausência de regras definidas além da possibilidade de contemplação da vida era a condição desse novo pensador renascentista, aliado a figura grega do mentor enquanto o jovem intelectual torna-se um escrivão das lições aprendidas. O mestre acompanha até onde pode seu discípulo o ensinando sobre a distinção entre a verdade e sua suspensão de validade se não for verificável em ideias e em realismo.
A academia atual ainda preserva esse papel de um preceptor intelectual como no caso das relações entre orientadores e orientandos. A busca por um discurso onde a palavra em si consiga dar provas de percuciência, sem procurar opor diretamente os sentidos e a tecnologia, as obras da mente humana como máquinas e engenharias, são tomadas como fatos naturais antes da revolução científica, como o exemplo da teoria da Evolução, consideradas como derivada de causas divinas.
 No entanto cabe a mim lembrar que os pensamentos estão na mente, um lugar que não reconhece como limite a natureza. Oxalá “que minha mão não trema” no momento de principiar a observação da dedução do grande mundo social ante os espelhos dos grandes livros e imagens, essas escrituras que, a partir de agora, científicas e racionais, passam a compreender e modelar a realidade.


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