quinta-feira, 25 de abril de 2013

XII


Ao passo que desenvolvo uma leitura crítica e radical ao pensamento marxiano para extirpar do pensamento social toda ortodoxia das formas de pensamento engessadas e de pouco  poder discursivo sobre o conteúdo de natureza e forma marxista, opero assim a prova dos 9 de Karl Marx. Para abrir caminho ao pensamento mais contemporâneo em regime de análise e crítica. Enquanto isso, segue o link para um texto meu sobre Norbert Elias e a Teoria Simbólica publicado recentemente no Blog Café com Sociologia, que com a capitania de Cristiano Bodart e Roniel Sampaio, estes que também organizam a Revista Acadêmica Café com Sociologia, uma bela inciativa para o pensamento sociológico no Brasil.

                                                                 


                                            ( *22. 6. 1897 - +1. 8. 1990 )

sábado, 13 de abril de 2013

LAUDA X


Pierre Bourdieu: Por uma macrossociologia entre campos e habitus, estruturas e práticas no contemporâneo.



“A máquina de costura só foi inventada quando as pessoas deixaram de imitar os gestos da costureira: sem dúvida, a sociologia tiraria a melhor lição de uma justa representação da epistemologia das ciências da natureza se se empenhasse em proceder à verificação permanente de que está construindo verdadeiramente máquinas de costura, em vez de transpor, de forma irrelevante, os gestos espontâneos da prática ingênua” (BOURDIEU, P.,CHAMBOREDON, J-C., PASSERON, J-C. Ofício de sociólogo: metodologia da pesquisa na sociologia.4ª Ed.. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004, p.36)
Introdução

No exercício de construção de uma literatura científica, com bases em vista da formação de um novo paradigma teórico, metodológico e epistemológico para as Ciências Sociais, a obra do francês Pierre Bourdieu (1930 – 2002) é um rico e ilustrativo exemplo da possibilidade de uma concatenação e orquestração de postulados clássicos, para fins de estabelecer premissas que possam corroborar na busca por esquemas de interpretação da realidade social e do lugar do sociólogo na atualidade.

Assim, no percurso povoado por obras como Profissão de Sociólogo: Preliminares epistemológicas[4] (1999), O senso prático (2009), A economia das trocas simbólicas entre outras, se espraia, de tal maneira, num vasto horizonte intelectual uma perspectiva crítica de síntese do pensamento clássicos em sociologia, desdobrando-se numa abordagem construtivista estrutural – macrossociológica – dos fenômenos sociais e suas relações com os indivíduos e de forma que o mundo social que é visto, entendido e interpretado à luz de um complexo de conceitos e categorias tais como habitus, campos, práticas, estruturas estruturantes, estruturas estruturadas, o que se revela enquanto estratégia teórica encarnada em um aporte metodológico rígido que possibilita por sua vez a emergência de um protótipo epistemológico relacional onde se funda traços da ciência social moderna.

Logo, apresentados a esse prisma, breve e rarefeito, do pensamento do sociólogo francês em questão, possamos agora nos aprofundar numa busca por uma visão analítica e uma compreensão ainda que recortada de pontos cruciais da estrutura de pensamento deste cientista social de nosso tempo.

I – A práxis da ruptura, o ofício e a vigilância científica: A epistemologia como balança entre a teoria, método e objeto de pesquisa Ciência Sociais.

Em Bourdieu, o anseio pela “modelagem” de novas formas de construção dos pontos de vista críticos acerca do real são quase obsessão, desde a Miséria do Mundo com suas entrevistas e engenho de dados quantitativos aliados a depoimentos onde se ouve o eco da subjetividade, aparece uma nova proposta, de certa forma, onde alinham-se a técnica do pesquisador ao olhar mais apurado desenvolvido sobre seu objeto, ou seja, uma espécie de “práxis cientifica” se origina no seio do pensamento social; o que por sua vez requer do sujeito pesquisador uma consciência do seu trabalho no qual uma “distinção” entre as formas de conhecimento se elaboram, a partir da qual se opera uma insidiosa relação entre “comunidade científica” que legitima, avalia e coordena os valores da “atividade científica” o que apresenta no contexto da sociologia  do conhecimento como “força” que age no campo afim de conter e administrar as rupturas causadas por revoluções científicas as quais transformam os movimentos internos da prática teórica  bem como seus paradigmas e os pontos de partida para a construção de hipóteses e como desenvolvê-las em face as contradições que se evidenciam na práxis da pesquisa empírica – rompimento com o senso comum, vigilância científica – em decorrência do complexo crítico entre metodologias e orientações epistemológicas que norteiam o fazer sociológico e suas nuances.

II. A lógica sociológica: a ossatura e o holograma da teoria social bourdiana.

A sociologia é o plano cartesiano onde se ligam ponto a ponto os pressupostos da teoria social e das ciências humanas como um todo abrangente e (ina)harmônico  no qual se agregam possibilidades de apontar caminhos para o estudo da vida em sociedade.

Nesse sentido, o autor em questão, ao abordar um elaborado arquipélago de conceitos, nos lega um conjunto de chaves interdependentes e suas implicações. O que diz respeito às questões de aplicação a uma realidade específica, nos atentaremos para o campo das Artes. Sobre o qual Bourdieu explicita e delineia contornos através dos quais categorias como estrutura, habitus[11] – “arte de inventar” que “confere as práticas sua independência relativa em relação às determinações exteriores do presente imediato” – e práticas[12] – “atividade real como tal” – ganhar forma de maneira que a impressão refletida da teoria permite um debate sobre alcance e validade do projeto teórico de Bourdieu.

É mister partirmos do esclarecimento de que  para o artista das estruturas servem como instâncias de consagração sejam as academias, os museus, as universidades, no livro Amor pela arte, Bourdieu explana sobre o fazer artístico, as relações entre os espaços de exposição da prática artísitca e seu encontro com o público. A imprensa, as editoras, toda a estrutura que aloca e mobiliza as forças em torno da obra de arte funcionam como agentes que acionam e dão margem de crescimento do capital cultural, social e simbólico da obra de arte a ser produzida.

Já na obra o Senso Prático...

“Nada é mais enganador do que a ilusão retrospectiva que revela o conjunto dos traços de uma vida, tais como as obras de um artista ou os acontecimentos de uma biografia, como a realização de uma essência que lhes preexistiria: da mesma maneira que a verdade de um estilo artístico não está inscrita em germe em uma inspiração original, mas se define e se redefine continuamente na dialética da intenção de objetivação e da intenção já objetivada, da mesma maneira é pela confrontação entre as questões que não existem senão pelo e para um espírito armado de um tipo determinado de esquemas e de soluções obtidas pela aplicação desses mesmos esquemas, mas capazes de transformá-los, que se constitui essa unidade de sentido que, retrospectivamente, pode parecer ter precedido os atos e as obras anunciadoras da significação final, transformando retroativamente os diferentes momentos da série temporal em simples esboços preparatórios” (BOURDIEU, 2009, p.91)

O artista por sua vez, que é indivíduo, mas que é imagem e representação de um grupo, é ele quem incorpora uma coletividade de maneira que corporifica gostos e assume posturas, aponta estéticas e identifica tendências para engendrar um olhar e uma prática social consubstanciada num habitus – ainda que considerando as “dificuldades propriamente científicas que faz surgir” – que se forma na condição em que se estabelece no “jogo” do sujeito ou do seu grupo diante das classes sociais – que são configurados pela lógica da dominação entre os grupos dominantes e dominados – do capital econômico, político, sendo que a identificação se apresenta de acordo ao contexto das relações de poder e suas condicionantes o que aproxima a teoria do real.

III. “A Revolução não vai passar na TV”: Os limites da transformação e a reprodução social.

O arguto edifício intelectual, erigido pelos argumentos de Bourdieu, no decorrer da sua obra, nos possibilitam avistar um avatar através do qual a teoria social é um corpo de estruturas de pensamento e percepção da realidade arquitetadas, de modo tal, que o arranjo entre as forças que agem no interior da dinâmica social aparecem cimentadas sob o jugo da relação entre ordem – consubstanciada na força do habitus como nos diz, o autor em Senso Prático, que
 “nas formações sociais em que a reprodução das relações de dominação (e do capital econômico ou cultural) não é garantida pelos mecanismos objetivos, o incessante trabalho necessário para manter as relações de dependência pessoal estaria de antemão destinado ao fracasso caso ele não pudesse contar com a constância do habitus, isto é, o organismo que como grupo dele se apropriou e que ele é de antemão atribuído às exigências do grupo, funciona como a materialização da matéria coletiva, reproduzindo nos sucessores a aquisição dos predecessores” (BOURDIEU, 2009, p.90)
Além das normas e o conflito entre dominantes e dominados adornada pelas interações “sociais”, “simbólicas”, “econômicas”, “políticas” e “culturais” que tem por princípio a relação com o capital em suas mais variadas formas.

Tomando por base as multifacetas do sistema social capitalista, a teoria do francês, vêm com o intuito de trazer à tona um método que possa abarcar epistemológica e a sociologicamente as mais variadas gradações de manifestação das formas de dominação ou premiação que o processo coletivo oferece.
Por sua vez, nessa tarefa imposta a um projeto intelectual de tamanha envergadura nós conjecturamos entre outros entre outros desdobramentos, a limitação de transformação social, já que os movimentos societais, comandam as práticas sociais. O que nos revela a predominância da estrutura sobre o sujeito, do método e teoria em relação dialética com o objeto e da relação dialógica entre empiria e epistemologia em sociologia; assinalando de forma categórica o soerguimento da reprodução social como força de conservação da substância social.

IV – Considerações preliminares: Uma teoria, sua crítica e o não fim da análise.

Tendo partido em busca de uma fonte de recursos que salientassem os destaques no arcabouço teórico, metodológico epistemológico e indicassem sinais de cognição da sociologia e da sociologia do conhecimento de Bourdieu, encontrou-se pelo caminho uma ideia contundente de distanciamento no que tange ao ofício do sociólogo para que seja possível a produção de um método a partir do real e com bases empíricas sólidas, além de estar aliada a uma constante vigilância contra o espontaneismo de sociologias efêmeras.
Trata-se de escapar ao realismo da estrutura ao qual o objetivismo, momento necessário da ruptura com a experiência primeira e da construção das relações objetivas, conduz necessariamente quando hipostasia essas relações ao tratá-las como realidades já constituídas fora da história do individuo e do grupo, sem recair, no entanto, no subjetivismo, totalmente incapaz de dar conta da necessidade do mundo social: para isso, é preciso retornar a prática, lugar da dialética do opus operatum e do modus operandi, dos produtos objetivados e dos produtos incorporados da prática histórica, das estruturas e dos habitus. (BOURDIEU, 2009, p.86-87)
Deparamos-nos também com a tradição francesa bem representada nos conceitos de estrutura e seu envolvimento direto com a noção de construtivismo em face a objetividade nas ciências sociais, operando assim “um questionamento radical do modo de pensamento objetivista”, logo

“A teoria da prática como a prática evoca, contra o materialismo positivista, que os objetos são construídos, e não passivamente registrados e, contra o idealismo intelectualista, que o princípio dessa construção é o sistema das disposições estruturadas e estruturantes que se constitui na prática e que é sempre orientado para funções práticas.” (BOURDIEU, 2009, p.86)

Aparece também o lugar da praxeologia. Além de que a leitura de uma miscelânea de textos aponta para a coleção de abordagens dos conceitos e suas complexas aplicações e explicações. Pois que em vários aspectos os conceitos se adequam aos objetos das teorias e as relações que estas estabelecem com seus objetos frente a premissas metodológicas e pressupostos epistemológicos.

Enfim, preliminarmente surge do mosaico de vertentes do ambiente intelectual resultante da leitura crítica e analítica de parte da vasta obra deste autor, que a essência das suas arregimentações esta repousada sobre a lógica do “jogo” pela dominação e a função social que possui, ainda, uma  noção coletiva de hierarquia, em suas mais variadas formas e fontes de poder, que se apresentam no contexto da modernidade.





[11] “sistemas de disposições duráveis e transponíveis, estruturas estruturadas e predispostas a funcionar como estruturas estruturantes, ou seja, como princípios geradores de práticas e de representações que podem ser objetivamente adaptadas ao seu objetivo sem supor a intenção consciente de fins e o domínio expresso das operações necessárias para alcança-los, objetivamente “ reguladas” e “regulares” sem nada ser o produto da obediência a algumas regras e, sendo tudo isso, coletivamente orquestradas sem ser o produto da ação organizadora de um maestro. (BOURDIEU, 2009, p.86)

[12] “Só se pode explicá-las, portanto, com a condição de relacionar as condições sociais nas quais se constituiu o habitus  que as engendrou e as condições sociais nas quais ele é posto em \ação, ou seja, com a condição de operar pelo trabalho cientifico a relação desses dois estados do mundo social que o habitus efetua, ao ocultá-lo na e pela prática” (BOURDIEU, 2009, p.93)

LAUDA IX

Entre o Sujeito e o Objeto há o Método: a influência de Comte e do Positivismo na Sociologia e em seu nascimento.


A ideia e concepção de ciência segundo a corrente filosófica positivista, deu início a uma nova forma de pensar e produzir conhecimento no século 19, encontrando em Auguste Comte seu óvulo imanente. Assim, tem-se sobre as mais diversas áreas do conhecimento, entre elas a Sociologia, que a partir do movimento positivista emerge enquanto ciência empírica, as mais variadas formas de transformação de paradigmas na transição do sistema filosófico clássico para a era das ciências modernas com a condição de imposição de limites lógicos e paradigmáticos, mais pragmáticos, para uma outra possível interpretação e explicação da realidade.

Logo, acontece a necessidade de instauração de novos métodos através das conceituações e ramificações das categorias em gêneros e espécies, possibilitando a Sociologia, ciência recém inaugurada, uma metodologia devidamente mais apropriada, segundo a estruturação da ciência enquanto pensamento positivista nos moldes comteanos, para a análise e observação e explicação determinando as causas e os efeitos das manifestações da fenomenologia social aparente.

De tal modo que, as fronteiras da filosofia são circunscritas no limiar da especulação filosoficamente hermenêutica do positivismo, o que permitiram a Durkheim metodologizar a principiologia que iria reger as ciências humanas como um todo durante tão profícuo século. A função e papel de importância que cumpre o positivismo é a possibilidade de abstrair da realidade um conjunto de regras e normas, dentro de um desenvolvimento cientificista através da busca de padrões e médias no comportamento do corpus social numa análise baseada no empirismo, que originem paradigmas para a consubstanciação das manifestações das esferas societais e suas explicações possíveis.

Do Conceitualismo: Durkheim e o conceito de solidariedade social.

Por conseguinte, o desvelamento de conceitos operados por Durkheim no interior de uma ciência da envergadura da Sociologia, são desde seus alicerces fundantes, ou seja,  caracteres de princípios  de contra pontos firmes às correntes sociológicas, desdobraram-se doravante os estudos do autor de O Suicídio. 

Entre eles na sua tese de doutorado – Da divisão do trabalho social – encontra-se uma das suas ideias centrais e uma bela caracterização de um possível organograma social. A forma e a organização da sociedade a partir do trabalho têm impactos e dispersa influências preponderantes no universo da cosmogonia Sociológica de então.

Pois que, passamos a um entendimento no qual a sociedade tendo como pressuposto a supremacia do todo sobre as partes, justificaríamos de antemão a hegemonia do coletivo sobre o individual e a lógica da reprodução pela representação e a lógica da reprodução pela representação teria mais um conjunto de bases intelectualmente estáveis.

De sobremodo que essa individualização do coletivo por parte do ser social do sujeito, se daria através de suas especificidades técnicas e práticas evidenciadas, sobretudo, no trabalho, o que decorreria a todas as suas manifestações em sociedade.

Não obstante, em seu conceito de Solidariedade Social a “consciência coletiva” sobrepuja a individualidade, onde um “sujeito social” prenhe de uma gama de “objetos subjetivos” como sentimentos, valores, e entes sagrados comuns insere-se na dinâmica societal em função da coletividade reproduzindo seus hábitos e crenças e se  materializam corolário a execução das letras jurídicas, qual no tocante a aplicação do ordenamento penal (conceitualização e exemplificação do fato social).

Consolidada assim a interação simbiótica entre individuo e sociedade, percebe-se o imbricamento do “eu” na superestrutura societal e a categorização dos paradigmas durkheimianos para não só descrever, mas explicar os modos de intercomunicação entre o ser social e a sociedade.


Cachoeira 13.04.2010.