quinta-feira, 14 de novembro de 2013

LAUDA XXI




O “novo humanismo” de Marcel Mauss e a etnografia balinesa de C. Geertz.

Os elementos que passam a compor as fronteiras entre sujeito e objeto no campo da antropologia cultural, na virada epistemológica, com os estudos e as descobertas de formas de pensar e sentir diversos do europeu, este homem ocidental, as novas formas de percepção dada pelo encontro com as organizações sociais africanas, em especial, operou uma distinção entre os universos e processos de atribuição de sentido as ações sociais e a agência em si.

As peculiaridades das dimensões psicológicas e etnológicas desses homens não ocidentais, por assim dizer, revelaram os conceitos que refundamentaram esse homem moderno pós crise do racionalismo iluminista do século XIX. Como dito anteriormente, em consonância com estudos de Joseph Campbell, é possível assim pensar que no contexto da antropologia nesse processo de interação

“a questão era encontrar um significado oculto de fenômenos que se moviam manifestamente em um circuito de significado, que eram símbolos explícitos – um discurso mítico, um ritual -, para Mauss trata-se de fazer falar aquilo que se supunha essencialmente mudo.” (BRUMANA, 1983; p.14)

Podemos de tal modo atestar o impacto com que essas complexas formas de expressão e simbolização das crenças, dos rituais, do corpo, da política, da identidade, de si, como a exemplo no caso do choque que arte africana causa no cubofuturismo de Picasso. Esses sinais de redefinição da estética apontam para indícios que deixam perceber a necessidade de novas formas de perceber o homem moderno e as suas formas de representação do real. O que, ainda segundo essa tradição de pensamento francês ao qual Mauss faz parte, nos
“indica a explicação sociológica daquilo que esta escola francesa chamava “representações coletivas” – isto é, as categorias com as quais membros de uma sociedade determinada se expressam, se comunicam, tratam de compreender e controlar a realidade.” (BRUMANA, 1983.p.12)

Segundo a minha compreensão, sobre os indícios do pensamento de Mauss (2003) reflito que, as relações dos homens são postas sobre as categorias de sujeito e pessoa, personagens e máscaras em construções de papéis em dramas sagrados, ou seja, cosmológicos, num complexo jogo entre entidades metafísicas, na representação de substância e modo; pessoa moral, no que tange a valores; e pessoa jurídica, sem desprezarmos a questão de conceitos como corpo e alma, levando em conta a transcendência como em um neo-kantismo herdado de Durkheim. O que o leva a afirmar que “É evidente, sobretudo para nós, que nunca houve ser humano que não tenha tido o senso não apenas do seu corpo, mas também de sua individualidade espiritual e corporal ao mesmo tempo.” (MAUSS; 2003; p.371)

“é que nada do que acontece na realidade social pode ser remetido, como fonte de explicação e/ou justificação, a uma transcendência; ao contrário, essa transcendência – Deus, o sagrado – é que deve ser remetida explicativamente à Sociedade.” (BRUMANA; 1983, p.11)

Em Geertz a etnografia entendida como ciência interpretativa honrando a tradição hermenêutica com um dos seus mais contundentes postulados, com a ênfase na produção simbólica e a preocupação metodológica de operar uma “descrição densa” e com profundidade em busca do significado. Marcado por um conceito de cultura influenciado por Weber no qual o homem está preso a teia de significados derivado de uma “ação social dotada de sentido”, onde a superação da aparência, da realidade e suas dimensões, numa compreensão do real como um texto. Nesse movimento de decifração e desvelamento o simbólico e seu conteúdo de sentido aparente se tornam chaves de entendimento do mundo moderno.

“Porque, em suma, é do homem que se trata. Mas não do homem como fantasma ideológico e impostado, um vazio repleto de retórica. É o homem como totalidade dupla, como processo de reconstrução crítica (crítica, já que deve negar a análise desintegrante) do decomposto na ideologia: em um nível, corpo, alma, inteligência, produções materiais e espirituais, etc.; em um outro nível as distintas humanidades dispersas e segregadas no tempo e no espaço: o maori e o parisiense dos subúrbios, os antigos escandinavos e os hindus, os romanos e os algonquim. Este homem único talvez possa formar a base de um novo humanismo”(BRUMANA, 1983; p.14)


A dualidade entre o “mundo sensível da cultura” e o “mundo inteligível das estruturas socioculturais” configuram enquanto um momento de correlação entre a linguagem posta entre a interpretação e a descrição bem como ocorre entre a operação da distinção entre literatura e antropologia que resiste. Bem como a relação entre compreensão e explicação do símbolo nos remete ao pensamento de que “a antropologia sobreviverá e se tornará cada vez mais necessária enquanto se aprofundar as questões de alteridade e os abismos entre nós e outros.”

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