segunda-feira, 25 de março de 2013

LAUDA VIII


 Sobre o grafite e Gombrich, Giddens, Baudrillar e Bourdieu.


Gombrich me interessa sim, principalmente as questões que ele propõe sobre norma e forma, só que tenho partido em busca de uma construção de uma sociologia da arte, ou melhor uma sociologia da cultura moderna, eminentemente moderna, e isso requer que eu delimite minha noção de moderno, mas com certeza recorrei a ele para algumas definições.

Falo dos anos 60 como ponto de inflexão do século 20, ainda num processo que ocorre dentro da própria modernidade, mas alguns autores como Habermas apontam Nietsche como ponto de virada da modernidade para a pós-modernidade.

No entanto, nossa hipótese de trabalho, por exemplo, não assume a propriedade do debate sobre o conceito de pós-modernidade; as noções de “desencaixe” e “compressão espaço tempo”, identificadas em Giddens são interessantes a partir do momento que incidem sobre a observação das formas de comportamento social, e, consequentemente, das formas de produzir e perceber a obra de arte, já que é na esfera das belas artes que a modernidade tem origem enquanto fenômeno social em percepção, análise e crítica.

Penso que, em relação a relativizações, é preciso ser precavido, já que a radicalidade das formas sociais e culturais que, passam por um processo de hiperrealismo, nos leva a construção de uma realidade simbólica que se sobrepuja esmagadoramente a realidade material e econômica.

Assim, a dimensão fantasmagórica da mercadoria (desde o corpo até as práticas dos sujeitos, no nosso caso os artistas), como correlato da vida em sociedade e sua fundamentação objetiva, como apontou Marx, nos direciona para a percepção de que o mundo que Baudrillar descreve em "simulacros" se efetiva a partir da reprodução de projeções derivadas dos bens simbólicos, os quais possuem um conteúdo de potente significado e sentido que são abstraídos da forma objetiva da mercadoria.

A obra de arte, enquanto forma mercadoria, revela que, o contato e a mediação entre a intenção do artista de comunicar, está resguardada no conteúdo pleno de sentido e significação que a obra comunica. Esse conteúdo é a natureza “espiritual”, estética e filosófica que preenche a expressão artística e atribui e configura as condições de existência da obra.

Na Modernidade, esta forma histórica preenhe de conservantismo, formas colonialistas conservadoras e conservadas, num processo de subjugação das expressões contra-hegemônicas, ideologia da exclusão e invisibilização na luta pela dominação, uma resistência se coloca tomando o grafite como objeto; ainda é possível ante aquilo que se sobrepõe à arquitetura e ao audiovisual?

O grafitti é a imagem plástica em seu sentido mais orgânico no movimento de forças de uma sociedade urbana capitalista pós industrial no ocidente, é a expressão do conflito entre valores estabelecidos e crítica social, através da obra de arte, já que tem como fundo o áudio da cidade, a luz natural do sol e artificial dos postes, e, como fim, a consciência social e histórica da sociedade numa perspectiva de crítica radical às formas de arte coisificadas no mercado de bens simbólicos da economia burguesa mais desenvolvida.

Essa negação da arte "livre" simplesmente vem pela necessidade de atribuir sentido e significado ao sistema de ordem política e econômica na qual os objetos de arte são submergidos a fim de produzirem lucros materiais por via de seus mecanismos de representação do mundo social, e antes pela capacidade de simbolização de uma esfera da vida social.

Assim, não consideramos aqui, o "fim da arte", mas sim, a determinação do mundo social pelo mundo cultural, e isso se torna mais agudo no contexto da década de 60, só que, a partir daí, tomo esse período como modernidade radicalizada, para poder entender como, por exemplo, o grafitti que marca o muro de Berlim, até o final dos anos 90 não era considerado arte, por parte de alguns teóricos da estética na era contemporânea, como Dabney Towsend que diz :
"Se o grafitti se tornar arte, passaremos a olhar pra edifícios e para as palavras sob uma nova perspectiva." ( Townsend, 1997, p.150)

Reitera-se o lugar de centralidade do mercado na manifestação das relações sociais e até nos processos de socialização. Agora  observa-se a compreensão da manifestação da obra de arte,  que então até os limites do modernismo, configura uma série de sistemas e formas de consumo e fruição que vão além da produção da arte moderna, como se a arte ultrapassasse os contornos da conjuntura estabelecida para sua objetivação enquanto tal. 

É mister encontrar lugar para obra de arte nessa era do consumo, se por exemplo, o grafite não pode ser vendido como uma tela, mas pode ser encomendado e feito em espaços públicos ou privados como muralismo e hoje em dia já existe até bienal do grafite. 

Mas ainda, a questão sobre o moderno é que, se não há definição para o contemporâneo que começa provavelmente depois dos anos 60, não sei se é um referencial, e menos ainda se compartilhamos deste ponto de partida, mas os fenômenos artísticos que se emancipam da esfera das galerias, exposições, da academia, etc., como arte publicitária por exemplo, de que forma podem ser entendidas a partir dos movimentos nas esferas da cultura?

Enfim, a questão do mercado é um ponto central sobre o qual Bourdieu destaca e sustenta a possibilidade autonomia (relativa) do campo artístico, e que esta só se efetiva quanto se estabelece o “mercado dos bens simbólicos” e isso em sua devida forma eminentemente moderna, como é estabelecida, manifestada e definida na modernidade.

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