A Escola de Manchester, que atinge em cheio a antropologia inglesa com nomes como Vitor Turner, alcança o ponto de crítica ao colonialismo.Num exercício de expressão e
significação das opressões entre grupos, através de estudos de modernização das
sociedades, revelando ecos das categorias marxistas na antropologia, com foco na
ação social em relação a estrutura social envolvendo estudos acerca de impasses
e conflitos observados na vivência intensa e "dramática" dos agentes
e atores sociais, numa perspectiva em que a agência - ação, atitude contra a
posição do sistema de reprodução social - se apresenta enquanto inovação das
convenções sócio-culturais (a ossatura).
Nesse sentido, o culturalismo americano – de
Boas – em relação a aculturação quando do encontro de culturas diversas forma
uma Antropologia do paradoxo. Nos anos 60 nos EUA, vive-se a efervescência de
questionamentos sobre os processos coloniais, numa espécie de oposição ao
estruturalismo francês, na revelação de uma ambiguidade, quando se adota uma
postura de inversão e anti-estrutura, numa espécie de suspensão.
Reconhecendo o ensaio sobre os
abusos verbais de Edmund Leach e um outro texto para uma microssociologia do
teatro do social a partir de Goffman tem-se, numa dialética entre o estrutural-funcionalismo
e o funcional-estruturalismo, uma abordagem a partir do "drama
social" enquanto unidade fundamental de análise com enredo e personagens.
Onde o Estado se apresenta num
intricado jogo de oposição e conflitos, num ambiente onde a crise é superada
por uma ação mediadora com a qual no desfecho se encontra o reforço da
estrutura - reforço dos laços sociais entre grupos. O ritual, um sistema de
símbolos equacionados, revelando uma interface entre sujeito, realidade
(identificada como estrutura cotidiana), a anti-estrutura (como momento
extraordinário) uma espécie de auto reflexão, que contribui para relativização
da estrutura num jogo ambíguo, paradoxal e conflitante.
A consciência, sinônimo de
agência revela uma transição sociológica, que aparece no texto
"liminaridade e comunitas" que um ideal coletivo compartilhado é
resultado de uma interação simbólica, normativa, valorativa e ideológica onde
os sentidos e significados são dados de forma externa através do contexto
histórico e social daquela forma cultural. A anti-estrutura, o estado liminar,
representado por um modelo alternativo e por vezes espontâneo, de
características episódicas, num ambiente efemérico no qual um fato processual é
orientado pela regularidade.
Estrutura social e símbolo no contexto ritual.
Turner (1967) no texto "Liminaridade
e Communitas " apresenta pontos críticos sobre as formas e atributos dos
ritos de passagem; Arnold Van Gennep (1960) aponta "fase liminar" dos
rites de passage "ritos que acompanham toda mudança de lugar,
estado, posição social, de idade" apontando uma dialética entre
"estado X transição".
"Status da função - condição estável,
recorrente e culturalmente reconhecida. Onde os ritos de passagem ou transição:
revelam momentos de separação, margem(limem) ou agregação. Levando em conta
características como um comportamento simbólico (afastamento) do grupo,
estrutura social (condições culturais) - "Estado", a situação
"limiar" que representa o intermédio onde o sujeito ritual (o
"transitante") entre estruturas "ambíguas" experimenta
frente o domínio cultural de "reagregação" e
"reincorporação".
O sujeito ritual pode ser
individual ou coletivo, e possui direito e obrigações que são válidos dentro
dum sistema de posições apresentado de um lado pela "Liminaridade"
enquanto estado de personae das pessoas, ambiguidade entre as posições,
leis, costumes, convenção e cerimonial através de simbolos que ritualizam as
transições sociais e culturais, onde se desconstroem/constroem o status.
A
"Communitas" representa-se enquanto laços de casta, classe, ordens
hierárquicas e posições segmentares. onde o a pessoa e personas sociais "é
como se fossem reduzidas ou oprimidas até uma condição uniforme, para serem
modeladas de novo e dotadas de outros poderes para se capacitarem a enfrentar
sua nova situação de vida"(p.118)
"Nas
iniciações com longo período de reclusão, tais como os ritos de circuncisão de
muitas sociedades secretas, há frequentemente uma rica proliferação de
símbolos" (p.118)
A liminaridade como momento de
mistura, ambiguidade, atrelada a submissão e santidade bem como homogeneidade e
camaradagem é como dar forma objetiva a um " momento situado dentro e fora
do tempo", "dentro e fora da estrutura social" de maneira que
"fragmentado em uma multiplicidade de laços estruturais".
Num "sistema
estruturado", político, jurídico econômico o "comitatus", esse
período liminar, não estruturado revela-se como área de vida em comum e que tem
no "sagrado" um beneficiário dos "rites de paasage" que
modera a questão do indivíduo.
"Reconhecer
um laço humano essencial e genérico, sem o qual não poderia haver
sociedade" ( p.119)
E assim dialeticamente, numa
experiência sucessiva, num jogo entre "communitas" e
"estrutura" revela-se momentos de homogeneidade, diferenciação,
igualdade e desigualdade. Num espaço em que se experimenta "ausência de status", uma espécie
de "limbo" da vida social. Na relação entre pessoas, grupos,
categorias, segundo Turner, coexistem "encargos" que na experiência
da vida, a estrutura, sinônimo do Estado, e a communitas, que refere-se as
transições, configuram as formas de liminaridade de um rito, a exemplo o de
investidura.
No ápice da hierarquia
político-legal estruturada, temos a "comunidade total", uma unidade
não-estruturada orientada pelo "poder místico" enquanto "fonte
ritual" força "política e militar" X o que é "ritualmente
potente", o ponto a se pensar é o poder ou poderes dos fracos, sob os
quais, fraqueza e passividade representam transações diacrônicas.
Posição social, "estrutura",
entende-se como a "sincrônia de certas pessoas, grupos e categorias
sociais nos sistemas políticos, legais e econômicos" onde os poderes
"liminares", ou seja, "inferiores", identificados como os
poderes rituais dos fracos, numa objetivação de uma "função
profilática", preventivamente de autocontrole e autodomínio entre estágios
pré-liminares e pós-liminares. Exemplos de "ausência de sexualidade"
submissão e "silêncio" onde a autoridade é concentrada na
"comunidade total" e "esta comunidade depositária da gama
completa dos valores da cultura, normas, atitudes, sentimento e relações."
(p.127)
Revelação - Fala - poder - sabedoria:
Epifânia.
O conhecimento=sabedoria do
grupo, gera um novo "status" a partir de uma forma impressa pelo
social e sua "estrutura de posições" após a indiferenciação da
liminaridade.
"Uma
pessoa incumbida de um alto cargo fica especialmente tentada a usar a
autoridade de que foi revestida pela sociedade para satisfazer desejos
particulares e exclusivos. Mas deveria encarar seus privilégios como dádivas da
comunidade inteira, que em ultima analise tem um direito supremo sobre todas as
suas ações. A estrutura e os altos cargos promovidos pela estrutura são assim
considerados como meios para o bem estar público, e não como recursos de
engrandecimento pessoal. O chefe não deve "conservar a chefia só para
si" (P.128)
"A
função purificadora exercida pela liminaridade não está confinada a esse tipo
de iniciação, mas forma um comportamento de muitos outros tipos em várias
culturas" (p.129)
Num exercício de amadurecimento
e autocrítica da disciplina, o pensamento social da Escola de Manchester,
reitera a ideia de que o ritual vivifica a estrutura. Como em Shalins em que o
estrutural é conjuntural, de maneira performativa e prescritiva, e a mudança
social é estabelecida e realizada num contexto ritual, e a mudança da estrutura
tem na cultura um ente social orientados da ação e a mudança e interpretada
pelo símbolo em evidencia na ação, onde se opera o conceito de "eficácia
simbólica".